segunda-feira, 14 de junho de 2010

Um certo ateliê na Brigadeiro...

Quando iniciei as aulas de dança do ventre em um studio bem pequeno no bairro onde então morava, mas que tinha professores bem legais, de jazz, flamenco etc., perguntei para a minha primeira prof de DV, a Dívia Dy, onde comprar roupas para aulas e acessórios, porque nem me passava pela cabeça comprar um figurino completo, como muita gente faz e eu sempre me pergunto por que, se estão começando, vão dançar onde e com que repertório (talvez num baile a fantasia?). Ainda bem que estudar outras danças dá uma noção pra gente de que é necessário um mínimo de vocabulário antes de sair por aí, mas enfim cada um tem uma viagem pessoal particular. A prof sem pestanejar me indicou a 25 de março, um outlet na Vila Mariana e o Atelier da Tia Cecy.
Eu comprava meus colants e roupas pra dança na Galeria Ouro Fino, e não me lembrava de ter visto nada ligado à DV por lá.
Por acaso esse tal atelier da Tia Cecy ficava próximo da editora em que eu trabalhava, nos arredores da Bela Vista. Na avenida Brigadeiro Luís Antônio, 1156, entrei no corredor de um labirinto que ia se desdobrando em várias lojinhas de produtos diversos. Lá dentro, não havia muita iluminação e isso dava um clima quase mágico ao lugar. Com tecidos, panôs , roupas e uma infinidade de lenços pendurados por todos os lados. Eu achava que o nome era apenas uma marca, mas a tia Cecy em pessoa estava lá e perguntou "Se eu me importava que ela mesma me atendesse porque a mocinha vendedora estava ocupada com o estoque." Imagina se eu ia me importar. E ela foi tão atenciosa mesmo sabendo que eu compraria apenas um lencinho de quadril e não aquelas roupas glam, luscious que ela vendia. Havia uma delas, vestindo uma orgulhosa manequim de loja, era um vestido, bordado de pequenas perolinhas coral dos pés à cabeça, porque havia mesmo um adereço de cabeça, como uma malha-cota, parecido com uma que a Mona Said usou num filme para dançar um... saidi (vídeo que eu amo de paixão, só que a pessoa que postou não permite compartilhar, sei lá por quê). Fiquei me perguntando quando é que eu teria punch para dançar com uma roupa daquelas, que era uma pequena fortuna, ou seja, pra bailarinas que já estavam no mercado, se jogando por aí, tipo a Soraia Zaied ou outras.

E tudo que eu achava mais bonito era igualmente muito caro (para os meus padrões), ao que ela respondia sempre calma, com uma expressão de bondade "que esse lenço era importado, mas que havia um outro mais em conta." As roupas eram todas de sonho, os adornos com combinações de cores em que o verde-água era inexplicavelmente mais verde-água que os outros.
Não era muito dada a pechinchas, embora inserida na comunidade egípcia em São Paulo, ser casada com egípcio e viajar com frequência ao Egito. Tinha muita consciência da qualidade do seu trabalho.
Diz a lenda que ela dançava e até deu aulas a Soraia.
Saí de lá feliz com meu lencinho de quadril preto bordado com ramos de flores, que dá pra usar também como adereço de flamenco, por causa das longas franjas. Até hoje não vi nenhum igual nem parecido.

Tia Cecy faleceu semana passada e fazia parte do universo bellydancer de São Paulo. Creio que não há profissional ou diletante que tenha um certo tempo de estrada por aqui e não a tenha conhecido e a seu importante trabalho, ainda que de passagem. O que é a bailarina sem o figurino? Ainda uma bailarina decerto, porém a roupa faz parte do imaginário e desse ritual de transportar o público a um mundo onírico e onde mais a imaginação o levar.

2 comentários:

  1. Que linda homenagem à Tia Cecy, Vera.
    Tenho certeza de que seu carinho chegou até ela, onde estiver.
    Beijo, Vi.

    ResponderExcluir
  2. Nossa! Só vi seu comentário esess dias! Sou lenta nas atualizações, mas já linkei seu blog aqui, uqe é muito sério e interessante. Bjos!

    ResponderExcluir