domingo, 31 de maio de 2009

O que que as turcas têm II...


Elas têm a possibilidade de, ao virar uma esquina qualquer, dar de cara com o Tarkan, astro de música pop da Turquia, campeão de postagens de vídeos nos orkuts das bellydancers, parece que não só do Brasil, mas around the world... Ele não é só conhecido na Turquia, mas em Londres, na Alemanha, Bélgica, México, etc. Tem uma bela voz e, pelo que pude constar de pesquisas, manda bem ao vivo nos shows, não é um cantor só de estúdio. Estudou música em conservatório e compões boa parte das músicas que canta. É bonito, tem carisma, dança bem e rebola na moral. Já mudou o visual um sem-número de vezes ao longo da carreira, desde o metrossexual, o sou-sexy-porém-macho, o andrógino, dando margens a discussões sobre suas preferências sexuais, embora seja sempre visto com namoradas, werever.
Já teve composições musicais mais tradicionais, mas atualmente usa samplers de hip hop, rap e outros ritmos ocidentais em suas músicas, canta inclusive em inglês e adota um estilo pop bem comercial. Seus clips são bem produzidos, com roteiros interessantes e algo ousados, explorando as diversas facetas da sexualidade, mas nada nem de perto comparado ao que a Madonna já fazia, por exemplo, há mais de dez anos, na época do álbum Erotica. Mas com isso já dá para as fãs dele irem sonhando com esse pouquinho de pimenta.



Durante as buscas encontrei uma porção de blogs só sobre o cara, de fãs do Brasil, Alemanha etc., como existem de outros astros pop internacionais. No texto sobre a foto acima dizia que ele teve de jogar a camisa para se livrar de um bando de fãs ensandecidas. É uma febre. Então, me perguntei por que é que ele não me empolga tanto. Hum, vamos ver, talvez porque apareça nos vídeos muito arrumadinho, muito maqueado, muito penteado, tipo um dos Jonas Brothers para meninas adultas, rsrsrs.

Resolvi pesquisar mais e descobri duas coisas que achei interessantes, um vídeo mais antiguinho com músicos que tocam instrumentos tradicionais de percussão, que amooo (o ritmo me parece um tipo de khaleege), no finalzinho, com samplers de hip hop, que também gosto bastante. Ah vai, também me empolguei com a letra que alguma boa alma postou com legendas em português ("Ela é pura como o leite materno/ Ela é fresca como uma flor") não é fofo? Então já me conquistou um pouco mais, e a mordidinha na boca que ele dá quando canta, rsrsrs. Parece que ele se diverte com o ritmo enquanto dança e khaleege é uma delícia de dançar mesmo. E ele toca derbake no vídeo, ou pelo menos finge que toca, e tocar percussão é o poder! Pelo menos eu acho. Observem a loura dadivosa de minissaia no show, talvez uma espécie de Fifi Abdo local. No show ele fica suado, daí parece um ser humano de verdade. É só seguir o link, porque não consigo postar com janelinhas direto do youtube nesta joça.


Mas, vejam só, também é um artista engajado, lançou a campanha Terra Mãe, junto a uma fundação para presevação da vida selvagem e riquezas naturais da Turquia, e um vídeo com música sobre o tema, com um dos instrumentistas mais tradicionais e respeitados da Turquia, o Orhan Gencebay. E a música é bela (enquanto melodia e tals, porque de turco não entendo nada; as imagens sugerem que deve falar sobre a destruição da natureza e a necessidade de preservação, etc. E isso de não entender a língua das músicas que se dança renderá outro post).

Tarkan e Orhan Gencebey (Earth song) http://www.youtube.com/watch?v=SorsyXksX10

Tinha pensado em um post sobre imaginar um público ideal para dançar melhor, dica dada por vários professores e professoras de dança que eu tive. "Imagine o fulano ali e dance assim ou assado". A minha lista era encabeçada pelo George Clooney, seguida do Jonny Depp, Antonio Banderas, Jose Eduardo Agualusa (escritor angolano), Colin Firth, Vincent Cassel, Toni Garrido, o Gael Garcia Bernal, entre outros, e tenho certeza de que na lista das bellyoungers teria um lugar também para o Tarkan, mas daí tem de caprichar muuuito, né meninas, porque sabe como as turcas são esforçadas.





domingo, 17 de maio de 2009

O que é que as turcas têm...



Mas o que é que as turcas têm de diferente, além de uma das mais belas capitais do mundo, Istambul (um dos meus dourados sonhos de consumo turístico)? Não, não fui até lá, ainda, mas graças ao cinema (outro filme que vale muito a pena e falando de comida de novo, e de cena de dança de novo: O tempero da vida, 2003) é que pude ter uma ideia, e confirmar o que já tinha visto em fotos: o lugar é mesmo encantador.

Para introduzir o tema, vou narrar um lancinho que aconteceu comigo. No final do ano passado teve festa na classe (como boa aluninha que sou, depois de apresentações em teatros, é nessas festinhas na escola que mais gosto de dançar, porque me faz sentir como numa daquelas gravuras antigas orientalistas, que retratavam bailarinas dançando para um pequenino círculo de pessoas). Bom, daí preparei uma coreo com uma música baladi moderninha, da Nanci Ajram, com uma batida puxada para o disco latino, com um quezinho de brega. Contrariando os meus gostos por músicas classudas, românticas, dramáticas, etc., achei divertido fazer uma coisa diferente. Houve elogios das amigas no final e as pessoas sorriam e pareciam estar se divertindo. Ótimo, que esse era um dos objetivos e tudo caminhava bem até que em dado momento do negócio fui fazer uma graça pra alguém e perdi a entrada de uma batidinha, daí tive de improvisar toda aquela parte, e veio uma frase de impacto que eu não previra em improviso, só na coreo montada. Não havia nenhuma parte do corpo adequada naquela emenda, exceto a cabeça. O meu instinto foi usar o jazz amigo porque juro não conhecer movimento de cabeça na DV adequado para aquela situação. Que violência! Parecia haver baixado uma turca em mim. Pude notar a expressão de desaprovação instantânea nos semblantes de algumas colegas e até da prof eu diria, mas fui amenizando quando voltei ao modo egípcio-brasileiro de ser, que afinal esse é o estilo da DV que aprendemos: somos mocinhas cativantes, porém delicadas, bem-comportadas (item sujeito a controvérsias, rsrsrs), finas e sabemos muito bem o que estamos fazendo, porque os movimentos menores exigem mais técnica e por isso não precisamos barbarizar o público com uma apresentação retumbante e espalhafatosa, ok? Outras escolas em São Paulo têm muita influência das libanesas, um tanto mais espetaculosas, mas é um estilo, enfim, e deve ser respeitado e dançado... por lá mesmo, nas outras escolas e demais ambientes em que tenha boa receptividade.

Quando acabou, pensei: eu parecia uma turquinha maluquete dançando, não fiquei satisfeita e me senti culpada até. Mas por que é que se fala assim das turcas e também de algumas libanesas? E por que tinha de me sentir culpada por parecer “uma turca dançando”? Tudo bem que já tinha assistido a uns vídeos de bailarinas turcas, que pareciam estar fazendo assim uma espécie de apresentação de ginástica artística, com espacates impactantes, movimentos de braços e tronco brutos e repetitivos pontuados aqui e ali por um shimie ou ondulações tipo iogues, um medo total, fora o figurino, que deixava muito a desejar, quer dizer, literalmente deixava muito corpo exposto a ser desejado. Não que haja nada de errado com um corpo exposto, em balé moderno se dança até de lingerie e ninguém liga, já vi bailarinos dançando nus. Só que essa nudez se encaixava no contexto da obra (no entanto, lembro que apesar do excelente nível e profissionalismo dos bailarinos, o espetáculo em si foi uma chatice). Voltando à DV, a dança das turcas que vi não se parecia em nada com a dança do ventre que conhecia até então. Daí fui pesquisar na net sobre essas bailarinas e descobri um texto bem informativo sobre as bailarinas turcas no site da Lulu Sabongi, que traduziu textos de pesquisadores sobre o tema (livro A dança do ventre oriental, escrito por Kemal Ozdemir); e também pelo Arabesc. O público de lá espera isso delas, tanto no que diz respeito ao figurino quanto à dança. Para eles esse é o normal, embora A DV não seja vista com bons olhos pela própria cultura local na Turquia, e só algumas poucas bailarinas é que têm destaque e são respeitadas. Um exemplo desse estilo de figurino é a Princesa Banu, na foto a seguir, uma bailarina de sucesso nos anos 80, que era uma intérprete do estilo clássico egípcio, com influências turcas.




No meio da pesquisa tive uma surpresa ao descobrir por meio do Arabesc, com vídeos disponibilizados no Youtube, outra bailarina turca que fez sucesso nos anos 70 e 80, a Nesrin Topkapi, com um estilo suave e totalmente diferente de dançar das suas compatriotas. Segue uma gravação de programa de TV em sua homenagem, quando já aposentada da dança, fez uma derradeira apresentação. A música é linda e a interpretação emocionante. Que leveza e maestria com os véus sem precisar girar à velocidade da luz.

Nesrin Topkapi

Daí me encantei mais ainda quando vi outra gravação da Nesrin mais jovem e graciosa, com um figurino e cabelos estilosos, sem deixar o corpo todo à mostra. Nem precisava, porque a mulher já era um escândalo de sensualidade mesmo bem vestida. Mas... em dado momento ela realiza um movimento de contorcionista com os braços, que afinal algum padrão esperado das bailarinas turcas ela tinha de ter.

Nesrin Topkapi jovem http://www.youtube.com/watch?v=X8s2OT5D4w8

Agora, um exemplo da bailarina turca propriamente dita, conforme dança e figurino, Sibel Baris, com grande destaque na Turquia atualmente. Cada um tire as próprias conclusões, rsrsrs...

Sibel Baris http://www.youtube.com/watch?v=tDuSO2_FjNk

Mas por que as turquices alheias me incomodam tanto? Por um lado, se na escola que a gente aprende ensinam que o jeito egípcio de dançar é que é o must já é um bom motivo, não é? Por outro, não seria algo assim como uma espécie de “quem desdenha quer comprar”? Será que critico os malabarismos e contorcionismos justamente porque não conseguiria fazê-los? Até já fiz aulas de trapézio em circo, porém não tenho uma superflexibilidade como gostaria, a minha sempre foi apenas razoável. Que o bailarino é antes de tudo um atleta está ok, mas terá de ser também um ginasta? Na expectativa do público da Turquia parece que sim. Pra mim estaria tudo bem com isso, desde que houvesse algum tipo de emoção envolvida. Da minha parte prefiro o bailarino que seja também um ator, que expresse algo além da mecânica de um movimento. Qual é a intenção de uma apresentação de dança? As possibilidades são inúmeras: alegrar, divertir, contar uma história, apresentar folclore de um povo diferente, fazer o público viajar a um lugar para o qual nunca foi, apresentar uma personagem, seduzir, comover, encantar, o que for, mas não me interessa muito como espectadora a intenção seguinte “olha só o que consigo fazer com meu corpo, consigo segurar o pé de costas e deitada, de ponta-cabeça”, etc. Por exemplo, não me animo com a dança da Didem, uma superstar atual da Turquia, ela é fofa, lindinha e tudo, mas não me dá vontade de assistir até o final da apresentação dela, porque parece muito precisa, impecável demais, a técnica acima de todas as coisa, etc.
No entanto, é lógico que há que se respeitar as culturas e as expectativas dos diferentes públicos de dança.
Quando me pego criticando algo que o outro faz sempre me pergunto se eu conseguiria fazer algo parecido ou melhor. Se a resposta for “consigo, mas não gosto e não quero fazer assim, não me agrada, etc.”, daí vejo que está tudo ok. Se a resposta for negativa, trato de tentar entender se a crítica procede, me pôr no meu devido lugar, mas pensando bem pode ainda haver a opção "Mesmo se pudesse fazer não faria assim." E vcs, hein?

sábado, 2 de maio de 2009

O segredo do grão



Assisti semana passada a um filme que enfoca relações familiares e de amizade em uma família francesa de origem árabe. Tudo bem que é de 2007 e muitos já devem ter visto, mas minha natureza é lenta e depois que virei mãe fiquei mesmo desatualizada em relação à indústria cultural no mundo, pelo menos a adulta, ha, ha. Dirigido pelo tunisiano Abdellatif Kechiche, o filme é premiado com quatro Césars, uma espécie de Oscar francês. Sempre dei mais atenção ao que os supostos inteligentes franceses pensam sobra as coisas do que os supostos inteligentes americanos, a não ser que esses americanos sejam, por exemplo, o George Clooney (que não sou tão bobinha assim...), o Robert Altman ou o Noah Chomsky, e mais recentemente o Obama. Fui doutrinada a pensar assim na faculdade e as evidências não me levaram até hoje a deduzir o contrário. Tenho preconceito contra o star sistem e a mídia estadunidense, mas é claaaaro que se acontecesse um milagre comigo semelhante ao que ocorreu com a escritora do Harry Poter me venderia rapidinho. Aquela mulher é testemunha de que milagres existem, mas isso renderia outro post: sobre mães em dificuldades, etc. É impressionante a minha capacidade de divagar sobre outros assuntos que rondam o tema principal. Vamos voltar ao que interessa: Por que é legal quem faz DV assistir a O segredo do grão? Porque é bom tentar entender um pouco da cultura na qual se insere uma arte que praticamos, não é mesmo? O filme aborda alguns aspectos da vida dos imigrantes de origem árabe de classe média na França, primeiro a culinária (pensei que ia desvendar o segredo do preparo do famoso cuscuz marroquino, que acaba sendo praticamente uma personagem da história, tal a sua importância no enredo). Segundo, a música, ah, como é emocionante reconhecer algumas que são tocadas pelos músicos de verdade, idosos moradores do mesmo hotel e amigos do protagonista, um aposentado trabalhador das docas, cujo sonho é abrir um restaurante em um barco. Com certeza, ao assistirem ao filme, pessoas que sejam de alguma forma envolvidas com a cultura árabe também reconhecerão a maioria ou pelo menos algumas canções tocadas com instrumentos tradicionais. Terceiro, porque dá para perceber que as relações familiares, ainda que se deem em um país ocidental e em tempos atuais, ainda são permeadas de atitudes machistas. Quarto, a dança do ventre em si, ainda que apareça só no final do filme, de maneira despretensiosa e sem o glamour que cerca os shows a que estamos habituados, é dançada de forma visceral e usada como tentativa de instrumento de salvação. A história mostra personagens semelhantes a pessoas de carne e osso. Todas as emoções e dramaticidade que tentamos sentir nas canções (nós que não sabemos a língua árabe), estão lá: o amor, a mágoa, a raiva, solidão, tristeza, luxúria, solidariedade, alegria, impotência diante dos fatos. Filmado de maneira que em alguns momentos se assemelha a um documentário, o filme é comovente ao extremo, para os que se permitem ainda comover com as mazelas alheias, além das próprias nos dias de hoje.